Nesta segunda-feira, 06, a Rede Observatórios da Segurança divulgou a terceira edição de seu estudo sobre violência contra a mulher. De acordo com os resultados apresentados, no Ceará, pelo três mulheres foram vítimas de violência doméstica por semana durante todo o ano passado. No total, foram 145 crimes contra a mulher, dos quais 28 foram casos de feminicídio e 31 casos de violência sexual. Além disso, de acordo com os dados compilados, pelo menos seis feminicídios em 2022 foram motivados por términos de relacionamentos.
Essa razão aparece em terceiro lugar na lista de motivações mais comuns, representando 14,62% dos casos. Em segundo lugar aparecem brigas em geral, que correspondem a 21,74% das ocorrências. Em mais de 38% dos casos de feminicídio, a razão por trás do crime não foi informada. É válido destacar que, segundo o estudo, em 75% dos feminicídios, o autor da violência é o parceiro ou ex-parceiro da vítima. Tal boletim, que é produzido a partir de um banco de dados que armazena todos os dias informações sobre violência e segurança que circulam no âmbito virtual, também compilou dados de outros estados como Bahia, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.
Em todo o Brasil, uma mulher foi vítima de violência a cada quatro horas. Dos 2.423 casos registrados, 495 terminaram em morte. O maior número de ocorrências aconteceu em São Paulo, com 898 casos. A Bahia, por sua vez, foi o estado com a maior taxa de crescimento em relação ao boletim anterior, uma variação de 58%. Além disso, a Bahia também foi o estado nordestino com o maior índice de feminicídios. O Ceará, por sua vez, teve um aumento relacionado ao número de casos de violência sexual, que anteriormente, havia sido 17.
Na última sexta-feira, 03, a sociedade cearense foi comovida pela morte da presidente da Câmara Municipal de Juazeiro do Norte, Yanne Brena, que tinha 26 anos. Os corpos dela e do namorado, Rickson Pinto, de 26 anos, foram encontrados pela funcionária da residência na sala da casa onde ambos moravam. Após o início das investigações, a Polícia divulgou que o caso estava sendo investigado como um feminicídio seguido de sucídio.
Não foram encontrados sinais de invasão na casa e os corpos não possuíam ferimentos de arma de fogo.
Até o momento, a Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) não divulgou o laudo oficial determinando a causa das mortes. No entanto, de acordo com pessoas próximas à vereadora, ela teria tentado terminar o relacionamento poucos dias antes do crime. Rickson Pinto, por sua vez, estaria em Fortaleza e teria retornado para Juazeiro do Norte na quarta-feira, 01. Ainda na sexta-feira, 16 pessoas já haviam sido ouvidas pela polícia. É válido ressaltar que a investigação está avançada e deve ser concluída em breve.
Para a psicóloga Rafaela Henrique, da Advance Comunicação, o machismo e a misoginia são dois dos principais fatores que dificultam o combate à violência contra a mulher. “Por conta dessa cultura, muitas mulheres acabam se submetendo a abusos e até normalizando. Algumas também dependem financeiramente do parceiro e, assim, elas sentem que não tem saída”, explica. A especialista detalha ainda, que o medo da impunidade faz com que muitos casos não sejam denunciados, ou seja, os dados sobre esse tipo de crime podem ser ainda mais alarmantes. “Há o medo de se expor e piorar o problema. Além disso, existe a vergonha de estar naquela situação e o pensamento de que a culpa é também dela”, relata.
A psicóloga afirma que, a longo prazo, os prejuízos para a saúde mental das mulheres vítimas são significativos. “Muitas vezes, há dificuldade para entrar em uma nova relação. Esse contexto também abala a autoestima da mulher, que pode se sentir diminuída ou inferior. Pode acabar ainda, desenvolvendo depressão, ansiedade e transtorno do pânico”, pontua. Por isso, Rafaela Henrique aponta que é necessário que as pessoas próximas se tornem uma rede de apoio firme. “A ideia de que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher já não cabe mais”. Segundo ela, é possível identificar alguns comportamentos que podem ser sinais de alerta para quando há algo errado em um relacionamento como uma maior reclusão por parte das mulheres, demonstrar algum nível de desconforto perto do cônjuge ou ainda afastar-se de amigos e pessoas próximas.
A psicóloga aconselha ainda, que é necessário cuidado ao prestar auxílio a uma vítima de violência. “É preciso acolher, mostrar que está do lado dela e encorajá-la a procurar ajuda para sair daquela situação e sempre ter cuidado para não julgá-la ou fazê-la se sentir de alguma forma culpada”, alerta.
Fonte: O Estado CE
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