A integração lavoura-pecuária (ILP) está se tornando uma prática difundida entre as propriedades brasileiras, conforme revelado pelos dados do Benchmarking Confina Brasil, reunidos pelos técnicos da Scot Consultoria.
De um total de 180 propriedades pesquisadas em 2023, que utilizam o confinamento, aproximadamente 46,7% implementam algum tipo de integração, seja lavoura-pecuária, pecuária-floresta ou lavoura-pecuária-floresta.
A Integração Lavoura-Pecuária vai muito além da mera coexistência de culturas e pastagens, gerando uma série de vantagens econômicas, ambientais e sociais.De acordo com a Embrapa, considera-se ILP um sistema de produção integrado que busca otimizar o uso da terra e dos recursos naturais. Nele, a agricultura e a pecuária são planejadas e executadas de forma conjunta, de maneira que uma atividade complemente e beneficie a outra.
“A ideia é criar um ciclo virtuoso onde a lavoura melhora as condições para a pecuária e vice-versa. Após a colheita de uma cultura de grãos, por exemplo, a área pode ser utilizada para pastagem, proporcionando alimento para os bovinos e ao mesmo tempo contribuindo para a reciclagem de nutrientes no solo. Da mesma forma, a presença de bovinos em área de lavoura pode contribuir para a fertilização do solo com seus dejetos”, explica a equipe técnica da Scot Consultoria.
No estado de São Paulo, a implementação nas propriedades pesquisadas, que utilizam confinamento, está em 28,6%. A rota paulista se destaca pelas iniciativas bem-sucedidas de ILP.
As boas práticas foram evidenciadas nas primeiras visitas da expedição Confina Brasil, que fechou a primeira semana passando por 12 cidades do Oeste paulista.
O benefício da diversificação da atividade, assim como a melhor rentabilização da terra, oferta de alimentos para o gado e a sustentabilidade foram vistos em algumas das propriedades, que ainda obtiveram ganhos com redução de custos e melhores índices zootécnicos.
É o caso, por exemplo, do Confinamento 3M, em Piquerobi, que além da pecuária, trabalha com lavoura, integrando a plantação de soja com capim. O rendimento de carcaça médio e o ganho médio diário do confinamento se mostraram acima da média obtida para o estado, durante a pesquisa de 2023. Esses números são um testemunho do sucesso da gestão e da eficácia das práticas adotadas na fazenda.
A Fazenda Santa Gina, localizada em Presidente Epitácio também se beneficia da integração. Há 14 anos, a propriedade implementou o sistema ILP com uma estratégia bem definida: a plantação de soja precedida por capim, preparando o solo para receber a forrageira. Outro destaque é o uso de mix de culturas, como o feijão guandu, que tem a capacidade de fixar nitrogênio no solo. Essa prática não só melhorou o desempenho das forrageiras, aumentando seu teor de proteína, mas também contribui para a saúde do solo a longo prazo, promovendo melhorias significativas em sua estrutura e fertilidade.O sistema ILP permitiu que a Fazenda Santa Gina não só otimizasse o uso da terra, mas também produzisse sua própria silagem para a alimentação do gado confinado, garantindo qualidade em seu insumo e menor custo para o confinamento.O manejo integrado dessas culturas com o gado aumentou significativamente a produtividades das lavouras, assim como a performance do rebanho.
Também a Fazenda Guacho, confinamento AGV, do grupo Agroterenas, localizada em Santa Cruz do Rio Pardo, dedica metade de suas áreas à pastagem e quase um quarto a agricultura, com a produção de cana-de-açúcar, grãos e laranja. A fazenda adota sistemas integrados, combinando capim com milho e soja.
Os dejetos deixam de ser um problema e se tornam uma solução.Outro ponto de destaque levantado pela equipe da Scot Consultoria foram as práticas de cuidados e destinação de resíduos e dejetos de forma sustentável, presente fortemente nos confinamentos à nível Brasil.
De acordo com o último levantamento feito pelo Confina Brasil, de 10 confinamentos pesquisados no estado de São Paulo, 88,6% deles realizam o aproveitamento de dejetos para fertilização orgânica, utilizando-os tanto na pastagem quanto na lavoura, sendo uma prática sustentável e que melhora a produtividade das operações agropecuárias.
O confinamento 5 Estrelas, que fica em Estrela d’Oeste, é um dos destaques neste quesito na primeira semana de expedição. Com uma estrutura exemplar, o boitel inaugurado recentemente faz uso da porção líquida dos dejetos do confinamento na fertirrigação do tifton, enquanto os sólidos são parcialmente usados na pastagem e o restante comercializados, como renda alternativa para o confinamento.
A drenagem estratégica dos currais de engorda e a limpeza frequente das baias, não só contribuem para a adubação da pastagem como também previnem problemas com lama na época das chuvas. Além disso, evita a proliferação de doenças.
Já o confinamento Pau d’Alho, de Presidente Venceslau, possui um sistema de tratamento dos dejetos, utilizando uma composteira para o enriquecimento do conteúdo. O composto, enriquecido com gesso, é posteriormente aplicado na pastagem e lavoura, e o excedente é vendido ou trocado por insumos com outras propriedades.
Assim faz também a Agropecuária Lanzi, de Garça, que otimiza o uso dos resíduos do confinamento, impulsionando a produtividade da lavoura de milho. Com um aumento significativo na produção, passando de 100 para cerca de 125 sacas/ha por conta do uso do esterco produzido pelo gado confinado, os gestores vislumbram não apenas suprir suas necessidades internas, mas também gerar uma renda extra vendendo o excedente com esse subproduto.
Da mesma forma, a Fazenda Guacho, de Santa Cruz do Rio Pardo, faz coleta periódica das baias, seguida pela compostagem e distribuição do composto nas áreas de lavoura e pastagem, comprovando ganho em produtividade especialmente nas plantações de laranja, uma das atividades “carro chefe” do grupo Agroterenas, após a adoção dessas práticas.
O administrador do confinamento, Maurício Pegoraro, enfatiza: “jogando esterco na pastagem ou lavoura, você está acrescentando matéria orgânica ao solo. Com o processo de enriquecimento (compostagem), você potencializa a mineralização de nutrientes presentes nesse composto para o solo”.
Essa abordagem sustentável contribui para a viabilidade econômica e ambiental dos confinamentos, além de um ambiente saudável e produtivo para os bovinos.
Dietas variadas, uso de coprodutos e diferentes processos de armazenagem garantem melhores resultados em confinamentos no estado de São Paulo.
Manter o custo nutricional reduzido e ainda conseguir aproveitar oportunidades de compra de insumos no mercado são grandes desafios em qualquer propriedade. Entre os confinamentos paulistas visitadas pela primeira rota do Confina Brasil, foram encontradas soluções interessantes, contrabalanceando essas questões.
No confinamento CSAP, em Buritama, a dieta dos bovinos é composta por uma variedade de ingredientes, incluindo coprodutos que podem impactar positivamente no bolso do pecuarista. A localização do confinamento permite o uso de insumos como bagaço de cana, melaço cítrico, polpa cítrica, torta de algodão, gérmen de milho e caroço de algodão.
A propriedade é cliente da Nutron – uma das empresas parceiras da expedição -, que auxilia na elaboração de dietas para que elas se adequem a cada fase dentro do confinamento e aproveitem os insumos disponíveis pelo melhor preço. O uso de barracões infláveis também foi uma alternativa encontrada pelo confinamento para solucionar a necessidade de espaço e armazenamento. Essa estratégia permite aproveitar os melhores preços dos insumos e manter um estoque adequado.
O confinamento Gasparim, localizado em Presidente Bernardes, destaca-se pela inovação em suas práticas, especialmente no manejo do milho reidratado, no processamento deste insumo um sistema de elevador e esteiras permite o transporte do milho para a reidratação, seguido por uma distribuição estratégica nas trincheiras de concreto. Esse investimento, além de otimizar a produção, diminui o tempo de operação e facilita a logística do confinamento. Além das trincheiras para armazenamento do grão reidratado, também contam com dois barracões para armazenamento de grãos, inicialmente sem serem divididos em box, surgiu a solução do uso de blocos de concreto que se encaixam entre eles, proporcionando uma solução dinâmica para a organização do espaço e flexibilidade de expansão.
No Boitel Chaparral, de Rancharia, o DDG (coproduto da destilaria do milho) é parte da composição da dieta do gado confinado. O confinamento possui uma fábrica para produção da própria dieta, incluindo a produção de seu próprio núcleo.
O aproveitamento de resíduos na nutrição foi, inclusive, o ponta pé inicial para a Fazenda Guacho, de Santa Cruz do Rio Pardo. O confinamento nasceu com o intuito de destinar a polpa cítrica úmida resultante da produção de citrus do grupo, e hoje a atividade do confinamento tem crescido anualmente.
Fonte: revistacampoenegocios
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