Aos 28 anos, ela recebeu prêmios nacional e internacional do Red Bull Basement por criar uma garrafa com bateria solar embutida que elimina bactérias e microrganismos da água por meio de radiação da luz azul. Um ano depois, a engenheira ambiental Bárbara Gosziniak Paiva parte para as últimas etapas antes de viabilizar o lançamento da garrafa em escala comercial.
“Quando o projeto estourou na mídia, ainda estava muito cru. A gente não sabia ainda a dose essencial para fazer o tratamento. Agora já temos uma visão bem mais clara, já temos os dados para construir a garrafa de fato. Basta conseguir os parceiros e o investimento e já devemos começar a fabricar”, diz Bárbara, que apresentou detalhes de sua invenção na 78.ª Semana Oficial de Engenharia e Agronomia (Soea), em Gramado (RS).
O uso da luz ultravioleta como agente esterilizador de superfícies e objetos é estudado há décadas, e ganhou novo impulso na luta contra a disseminação da Covid-19, a partir de 2020. Bárbara está entre os pioneiros a estudar as ondas radioativas, com comprimento de 450 nanômetros, para purificar a água.
Desafio é esterilizar grandes volumes em menor tempo
As potencialidades da luz azul (raios ultravioletas) para purificação de água, em maior escala, como caixas d’água ou tanques, continuarão sendo objeto de estudo de Bárbara na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), agora em tese de doutorado. Uma das dificuldades para esterilizar grandes volumes de água está no tempo necessário de exposição à radiação, atualmente de 3,5 horas, para assegurar que todos os patógenos estejam mortos.
A palavra radiação pode assustar os leigos, mas a pesquisadora explica que o nível utilizado é inofensivo ao ser humano. “Esse problema da radiação vai depender do comprimento de onda. Quando o comprimento de onda é muito baixo, temos energias altíssimas, como a radiação gama, que realmente causa problemas para nós. Mas quando a gente sobe o comprimento de onda, diminui a energia dessa radiação até chegar às ondas do rádio, por exemplo, que são uma energia bem baixinha e um comprimento de onda bem alto”, tranquiliza.
A decisão de procurar formas alternativas ao uso do cloro para tratamento da água foi tomada numa viagem de Bárbara a Nova York, quando ficou impressionada ao descobrir que as pessoas tomavam água da torneira, sem filtrar. “Por que no Brasil a gente precisa filtrar água quando chega à torneira? Por que não preservamos a bacia hidrográfica? Por que na faculdade só estudamos os métodos convencionais de tratamento e desinfecção?”, foram algumas indagações que reverberaram na cabeça da pesquisadora.
Luz azul é eficaz contra a bactéria e. coli
De volta ao Brasil, o uso da luz azul para esterilização da água, e a concepção de uma garrafa autolimpante, viraram tema de pesquisa de mestrado na UFOP. A garrafa, com bateria solar, vem também com uma membrana para filtrar partículas sólidas. “A membrana serve apenas para evitar a sombra, porque se houver sombra no microorganismo, a luz não vai chegar até ele. A garrafa é capaz de matar todos os microorganismos, inclusive a bactéria escherichia coli, que é grande causa de diarreia e doenças”, sublinha.
Num primeiro momento, a invenção de Bárbara tem como público-alvo esportistas e campistas, assegurando que água de fontes e riachos possa ser ingerida com segurança quanto à contaminação orgânica, mais frequente. A ideia, contudo, é extrapolar a aplicação da técnica, beneficiando milhões de pessoas.
“Esses microorganismos causam diversas doenças e mortes no mundo. E o problema é mais recorrente em populações mais pobres, que não têm acesso nem ao saneamento, que evitaria a chegada desses microorganismos até a água, e nem ao tratamento da água”, observa.
“Se a água estiver contaminada com metais pesados ou excesso de cloro, não é a garrafa que vai resolver. Mesmo assim, já terá aplicação para um universo enorme de situações”, complementa Bárbara.
A invenção da jovem mineira, Aqualux, está patenteada. Faltam, ainda, os investidores.
Fonte: Gazeta do Povo
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