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Entenda: Por que cientistas vão bombear CO2 em lotes de floresta na Amazônia?




Cientistas anunciaram oficialmente nessa terça-feira a ampliação do projeto AmazonFace, um experimento que vai bombear CO2 em seis lotes de floresta na Amazônia. O objetivo do grupo, liderado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) é entender como a mata vai se comportar no futuro, quando o volume desse gás na atmosfera será ainda maior que o atual.

O CO2 é emitido principalmente pela queima de combustíveis fósseis e pelo desmatamento, e é o principal causador de efeito estufa, que impulsiona o aquecimento global. Desde o início da Revolução Industrial a concentração de CO2 no planeta aumento de 280 ppm (partes por milhão) para 420 ppm, e deve subir ainda mais, já que o planeta custa a desacelerar suas emissões.


A mudança climática é um fenômeno inequivocamente maléfico para o planeta, mas quando se trata de avaliar seus efeitos sobre as florestas, a equação é mais complicada, porque a relação das plantas com o CO2 é, de certa forma, ambígua. Apesar de as árvores serem afetadas por secas e mudanças nos regimes de chuva, que vêm no pacote da crise do clima, as presença do CO2 no ar por si só é benéfica para as plantas.


O carbono contido no CO2 é principal nutriente consumido pelas plantas, que transformam esse gás na massa sólida que as constitui e o aprisionam em seu organismo. Com uma maior presença de carnono na atemosfera, cientistas postulam que, em tese, as plantas das florestas podem crescer mais rápido e até contribuir para desacelerar um pouco a mudança do clima. Esse possível aporte de massa que as plantas ganham com mais CO2 é chamado pelos cientistas de "fertilização de carbono".


À medida que o experimento prossegue, os cientistas vão monitorar o crescimento das árvores em cada um dos seis lotes de floresta, que poderão ter configurações experimentais diferentes. Vão ser avaliadas também as condições climáticas locais, as chuvas, a composição do solo e outros fatores.

Com as medições será possível saber se a floresta vai mesmo responder à fertilização de carbono, e qual será a dimensão dessa resposta, porque fatores secundários podem limitar seu crescimento. Será importante também avaliar o comportamento do experimento em períodos de seca na Amazônia, porque a frequência de estiagens e secas deve aumentar com a crise do clima. Uma preocupação dos cientistas, manifestada em estudos do ecólogo Beto Quesada, é a de que a escassez de fósforo no solo Amazônico seja um fator limitante relevante para a fertilização de carbono.

Relevância global

Um dos principais motivos pelos quais o AmazonFace ganhou relevância é que ele não será importante apenas para entender a reação da floresta à crise do clima, mas também a reação global.


As projeções usadas do IPCC (painel do clima da ONU), indicam que se o planeta neutralizar 100% das emissões de CO2 até 2050, o aquecimento global pode ser contido a um aumento de 1,5°C antes do fim do século, em relação aos níveis pré-Revolução Industrial. Essa estimativa demasiado otimista tem, ainda por cima, uma grande margem de erro, e esse aumento pode variar entre 1°C e 2°C.


A variação parece pequena, mas se traduziria numa diferença grande em termos de impacto da crise do clima.


Uma das principais incertezas nessa projeção é justamente o volume de carbono que será absorvido por florestas tropicais no futuro, em resposta ao aumento do CO2 atmosférico. Se cientistas no Brasil conseguirem usar o AmazonFace para refinar esse conhecimento, seus colegas que trabalham com estimativas globais terão a capacidade de fazer previsões mais precisas.


Fonte: O Globo

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