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"Crianças Trans existem. Fui uma delas." Diz Valentina Sampaio


“Sou Valentina desde que me entendo por gente. Então essa questão de assumir minha identidade transgênero foi bastante natural. Sempre tive certeza de quem eu sou.


Desde criancinha, já customizava as minhas roupas. Entrei na faculdade de moda e ali comecei a ter contato com as pessoas desse universo. Passei a fotografar e virei modelo.


Me lembro que tive a oportunidade de fazer o casting para o filme Berenice Procura, no Rio de Janeiro, e, durante as gravações, a L’Oréal entrou em contato comigo para gravar um vídeo para o Dia Internacional da Mulher. Essa campanha teve bastante repercussão, e não parei mais. Me mudei para São Paulo e logo fiz minha primeira Fashion Week. Dois meses depois, já estava viajando para Londres para virar capa de revista.


Mas claro que, ao longo de todo esse processo, sofri bastante preconceito. No começo era mais direto: já cheguei a ser tirada de estúdio, estando toda arrumada e pronta para fotografar, quando o cliente percebeu que eu era trans.


Agora sou mais blindada, procuro não me afetar tanto. Já pensei em desistir, mas o que me deu forças era saber que essa luta não era só minha, mas de todas as pessoas que, como eu, enfrentam discriminação.


Nos dias de hoje, ver tantas modelos trans trabalhando, outras meninas se inspirando em mim... Tudo isso me deixa feliz, mas sei que ainda há muito chão a percorrer. E, no Brasil, as coisas são mais difíceis. Os direitos trans são quase inexistentes. Ainda somos marginalizadas e sexualizadas.


Escuto muita gente dizendo que é preciso proteger as crianças, que crianças trans não existem. É claro que existem, eu existo e fui uma delas. Não julgar é hoje a coisa mais bonita que a gente pode fazer por alguém. E o preconceito, definitivamente, já saiu de moda.”


Fonte: Veja

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