O Brasil é a nação onde as pessoas mais sentem solidão, de acordo com pesquisa do Instituto Ipsos. O levantamento de 2021 ouviu 23 mil pessoas de 28 países e mostrou que 50% dos brasileiros se sentem sozinhos. A média global é de 33%.
A solidão está muitas vezes associada à depressão, doença que atinge 5% da população do planeta, segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS. O sentimento de vazio também pode indicar a falta de um propósito de vida.
"Há quem tenha inúmeras pessoas que a amam em sua volta, mas acaba não enxergando um sentido naquilo. É preciso combater esse sentimento buscando um propósito de vida. E ele já existe. Todos nós temos uma razão para existir; no entanto, é necessário um olhar mais atento para a própria realidade", explicou a terapeuta sistêmica Renata Oliva.
Ela afirma que escolhas erradas podem nos conduzir a um eterno sentimento de solidão que nem a companhia dos amigos, cônjuge ou filhos será capaz de preencher.
"A solidão tem muito a ver com os espaços que a gente precisa preencher, mas acaba colocando coisas erradas no lugar. É como aqueles jogos de encaixe nos quais as crianças praticam coordenação motora. É preciso encaixar cada peça no seu formato correspondente para evoluir", comparou.
A terapeuta divide sua opinião sobre o que leva o brasileiro a ser um dos povos mais solitários:
"O brasileiro, de modo geral, tem menos disciplina para o trabalho, para o hábito de investir em si mesmo e de empreender, se comparado a outros povos. Essa ideia de ter que buscar constantemente o lazer e o prazer não preenche vazios. Pelo contrário: quanto mais baladas, bebidas e momentos que trazem satisfação imediata, maior é a sensação de tristeza e solidão depois. Distrações não resolvem".
Uma das formas mais eficazes de reagir à solidão, recomenda a terapeuta, é a logoterapia. A abordagem foi criada pelo neuropsiquiatra austríaco Viktor Frankl, que propõe ao paciente o caminho da cura por meio da busca de um sentido para a vida.
"Nada é mais doloroso e triste para o ser humano do que o sentimento de ser inútil, de que sua vida não está a serviço de nada nem ninguém. Se isso acontece, nenhuma companhia será capaz de preencher o oco da solidão. A logoterapia é um antídoto para o problema, sendo também conhecida como a psicologia do sentido".
O médico psiquiatra Italo Marsili acredita que a solidão é algo próprio do ser humano e deve ser encarada com coragem.
"Por mais que estejamos amparados por um grupo, por uma comunidade, a responsabilidade da vida é sempre individual. Nós temos uma solidão ontológica, faz parte da estrutura da vida humana. Precisamos aprender a conviver com ela e enfrentá-la sem medo".
Marsili frisa que todos sofrem de algum tipo de privação e dor, mas é a postura diante da escassez que muda o cenário.
"Devemos acordar todos os dias com a missão de servir aos outros; quando se tem essa mentalidade, a cortina da solidão começa a se abrir, pois entendemos que estamos neste mundo para entregar algo, e isso nos preenche".
Para escrever o livro "O dilema do porco espinho: como encarar a solidão", o historiador Leandro Karnal dedicou-se por meses à leitura de clássicos que abordam o tema solidão.
Ele também buscou referências na filosofia, no cinema e nas artes para entender a questão.
"O mundo deve olhar para a solidão não como algo que remete ao vazio e à dor de não ter companhia (ou de não ser preenchida por ela). Olhemos para o conceito de solitude, que muda essa perspectiva; o termo se refere à capacidade de estar sozinho e fazer dessa experiência uma grande oportunidade de crescimento e autoconhecimento".
Para Karnal, a angústia de estar sozinho impede as pessoas de sentirem prazer em atividades rotineiras, como ler um livro, tomar um chá ou um vinho, ouvir uma música ou fazer atividades físicas.
"Se consigo exercitar essas práticas sem depender de companhia, passo a me sentir inteiro; nesse momento, eu converto solidão em solitude. Terei assim mais capacidade de transformar as minhas angústias em reflexões, e isso é muito gratificante", recomenda o autor.
Solidão pode ser sinal de depressão
Quando o sentimento de solidão está associado à depressão, a tentativa de mudar os hábitos ou a visão sobre a vida pode ser insuficiente. Nesse caso, apenas um acompanhamento psiquiátrico e terapêutico é capaz de sanar o problema.
O diagnóstico, causas, sintomas e tratamento da depressão são o tema central da nova série Original BP, A Fantástica Fábrica de Sanidade, que estreia dia 23 de janeiro, no streaming da Brasil Paralelo.
A Fantástica Fábrica da Sanidade mostra ainda que o impacto da depressão não se limita ao campo da mente.
Esse mal é um conjunto de fenômenos que pode trazer doenças autoimunes e câncer, entre outras doenças graves Em casos extremos, pode levar ao sucídio.
Fonte:brasilparalelo
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