Sem visitas para evitar transmissões de Covid-19, familiares dependem de equipe de médicos para ter notícias sobre o estado de saúde dos entes queridos e tirar dúvidas
Ana Laís é uma das 28 médicas(os) que atuam no setor de médicos comunicadores, responsável pela atualização a familiares sobre quadro clínico de pacientes com Covid-19.
O mundo ainda está no escuro em relação à pandemia de Covid-19. Quando voltaremos ao normal? Qual o tratamento eficaz para o novo coronavírus? Quais serão os impactos da doença? São muitas perguntas. Para respondê-las, pesquisadores de todo o globo mobilizam-se em estudos para garantir informações suficientes aos gestores e cidadãos. No entanto, existem outras perguntas que são tão urgentes quanto: as dos familiares que deixaram os entes queridos nas unidades hospitalares. Sem direito a visitas para evitar a transmissão de Covid-19, muitos cearenses dependem do contato de médicos para saber o quadro clínico dos parentes. É aí que entram os médicos comunicadores. A missão deles é atualizar diariamente a condição dos internados aos familiares e sanar a qualquer tipo de dúvida. A descrição parece simples, mas o trabalho dos profissionais envolve técnica e muita empatia. “Só nos colocando no lugar do outro, olhando as coisas pela ótica do próximo, é que podemos compreender, de fato, a sua realidade”, comenta Ana Laís Nocrato, médica da família atuando no setor de médicos comunicadores Hospital Regional da Unimed (HRU). Projeto usa videochamadas para aproximar pacientes com coronavírus de familiares Desafios Composto por 28 profissionais, o setor funciona de domingo a domingo analisando prontuários e traduzindo jargões técnicos em informações palpáveis para parentes. Esse é o principal desafio, uma vez que nem sempre as notícias são boas. “Saber lidar com a angústia e o sofrimento do familiar que está do outro lado da linha [é desafiador]. É preciso ponderar sempre a compreensão desses sentimentos da família com uma informação precisa, verdadeira, mas, acima de tudo, humana”, diz Ana. Ainda, com o contato sendo via WhatsApp e por ligação telefônica, a delicadeza e força dos médicos comunicadores precisa ser muito maior. Isso porque a ausência do toque humano também os obriga a encontrar outras maneiras de dar conforto aos familiares em momentos de sofrimento. “Confesso que nos primeiros contatos fiquei um pouco apreensiva”, relembra Ana Laís o primeiro dia do setor. Foi no dia 8 de abril, quando a demanda do HRU para leitos de Covid-19 aumentava. No dia, o Ceará já registrava 1.374 casos confirmados e 53 óbitos pelo novo coronavírus. Um mês e meio depois, o Estado lida com 31.413 confirmados e 2.161 mortes, segundo atualização desta quinta-feira, 21, às 18h35min na plataforma IntegraSUS. Sensação de dever cumprido “Amo a minha profissão. Por isso, cada dia é dia de dar o máximo para cumpri-la da melhor forma possível.” Na opinião da médica, é a dedicação diária que a ajuda a enfrentar as dificuldades da pandemia. Planejamento, foco, determinação e autoconfiança são fatores que Ana considera motivar todos os médicos comunicadores. “É um trabalho árduo, mas extremamente gratificante.” Apesar dos desafios e do futuro ainda incerto, a profissional de saúde se firma no dever de levar informação a todas as famílias. A cada contato feito, uma missão cumprida. “Eu começo a trabalhar todo dia com a vontade de fazer todo o possível para que o expediente acabe exatamente da mesma forma que ontem: com a sensação de dever cumprido.”