Professor da rede municipal de Fortaleza, o pedagogo Marcos Dionísio Ribeiro do Nascimento, 44, é coautor do Luz do Saber, um software para alfabetização e letramento de crianças. Especialista em informática educativa pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e mestre em computação aplicada à educação pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), ele foi convidado pela também professora Márcia Campos para criar o projeto, que surgiu em 2009 voltado para a alfabetização de adultos. A iniciativa é um projeto do Programa Cientista-Chefe em Educação Básica do Estado do Ceará, da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap). Adotada em escolas públicas de Fortaleza e de outros municípios cearenses, uma versão atualizada da plataforma estava prevista para o final deste ano. Por conta da pandemia de Covid-19, o lançamento foi antecipado, e o pedagogo criou perfis nas redes sociais para o Luz do Saber. Por eles e por aplicativo de mensagens, são divulgadas imagens com sugestões de atividades para serem feitas em casa com alunos do 1º e do 2º ano do Ensino Fundamental. Em entrevista ao O POVO (opovo.com), o pedagogo explica a iniciativa. O POVO - O que é e como funciona o Luz do Saber? Marcos Dionísio - Ele é um software voltado para alfabetização e letramento nos anos iniciais, quando a criança está no ciclo alfabetizador, do primeiro ao terceiro ano. O projeto, que já tinha uma versão em Flash, agora foi relançado em HTML5. Como estava precisando de atualização, estava caindo em desuso porque muitos computadores não estavam mais rodando a tecnologia, mas alguns municípios já usavam. Em 2019, foram 30 municípios no Estado. Antecipamos o lançamento dele e começamos a colocar atividades que os professores poderiam sugerir para os pais fazerem em casa. São atividades domiciliares, de ensino remoto, não é educação a distância. Ele tem aulas, vários aplicativos e mais de mil atividades. OP - E como são feitas essas sugestões? Marcos - Os professores estão se comunicando com os pais, em geral, através do WhatsApp. Grande parte dos professores criaram um grupo com eles e nós mandamos essas atividades. Eu coloquei as sugestões no Facebook, criei um Instagram e mando para os grupos de professores. Como eu já sabia que era muito difícil mandar uma sugestão complexa, fiz imagens. Muitas escolas colocam atividades complexas para os alunos, e o que nós fizemos foi colocar atividades mais simples, coisas que os pais consigam fazer com os alunos. Quando você manda para 20, 30 pais, não sabe a formação deles ou da pessoa que está com o aluno em casa. OP - O que motivou a criação do Luz do Saber? Marcos - A idealizadora do projeto é a professora Márcia Campos, e ela me convidou para participar, porque sou especialista em Informática Educativa e tenho mestrado em Computação Aplicada, então já tinha muita afinidade com a tecnologia educacional. O primeiro Luz do Saber que nós fizemos era um software para a alfabetização de adultos, mas ele começou a ser usado nas escolas, e as crianças começaram a usar e gostar. Em 2011, o Governo do Estado pediu para criarmos uma versão para crianças. Há 10 anos, nós tínhamos um problema de alfabetização muito crítico. OP - Que tipos de atividades os alunos encontram no software? Marcos - Eles encontram atividades e jogos. Ele (o projeto) tem quebra-cabeças, cruzadinhas, bingo de letras, bingo de palavras. E adicionamos características de gamificação. Quando o aluno faz bem-feito, ganha 3 estrelas. São 90 modelos de atividades que você pode mesclar. Quando o aluno entra, ele bota o nome, e então o software vai usar o nome dele em algumas atividades. Ou ele pode colocar imagens e nomes dos colegas, e o software também vai usar. Por isso que normalmente as crianças gostam bastante de usar, porque elas sempre pensam que estão em um processo de jogo. É um processo de aprendizagem lúdico. Como ele tem muita variação, algumas coisas se repetem, mas sempre têm um desafio diferente. Fora isso, ele tem aplicativos para criar um jornal e criar convites, tem um editor de texto e uma biblioteca. Atualmente, ela tem 34 livros, estamos só esperando um novo servidor para ele ser hospedado e vai passar a ter quase 200. São os livros do PAIC - prosa e poesia (coleção de livros do Programa Alfabetização na Idade Certa). Ele estaria finalizado no final do ano, mas antecipamos os conteúdos. Nós vamos colocar algumas ferramentas de gestão, como avaliação para saber os alunos que tiraram as melhores notas ou as piores em cada atividade. E tem ferramenta de karaokê que está sendo desenvolvida. São outras ferramentas lúdicas que queremos colocar. OP - Como percebe a importância de antecipar o projeto no contexto de isolamento social? Marcos - Primeiro que ele está disponível online e já tem um conteúdo didático para todo o ano. Ele também tem livros e cadernos que você pode imprimir e usar em casa. A maior parte das pessoas usa celular, e ele funciona também no celular. Sabíamos que isso ajudaria bastante. O professor pode sempre sugerir as atividades dele, não precisa todo dia estar procurando coisas muito diferentes. Acreditamos que é um facilitador. Todo dia ter que indicar um site diferente, ter uma proposta diferente, tanto complica para o professor quanto complica para o pai toda vida ter que aprender como funciona.