Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) discute causas de enchentes e apresenta opções para combatê-las. Lembramos que a retenção de água acontece também nas pequenas cidades, causando transtornos à população, mormente quando do período invernoso.
Enchentes devem ser prevenidas com inteligência e conhecimento, como de resto qualquer desastre natural: esta é a opinião do pesquisador Filipe Antonio Marques Falcetta, da Seção de Investigações, Riscos e Desastres Naturais do IPT.
O engenheiro civil comenta na entrevista abaixo como este problema pode tornar-se bastante complexo nas vias de trânsito intenso, localizadas em áreas de fundo de vale da Região Metropolitana de São Paulo, por exemplo. “A retificação das linhas de drenagem ignora comportamentos naturais dos rios”, explica ele, “além de esbarrar em outras intervenções estruturais nesses locais, o que potencializa o problema”. Confira!
Quais os motivos para o aumento no número de inundações na capital paulista e na região metropolitana?
Filipe: As enchentes e inundações são fenômenos naturais necessários para a manutenção de ecossistemas e preservação de espécies. Em São Paulo, durante o século XX, houve uma intensa mobilização para a construção de aterros em áreas de várzea, canalização e tamponamento de rios e córregos; com isso, todo o sistema viário foi estruturado nas chamadas ‘vias de fundo de vale’.
Estas vias foram construídas nas margens de rios e córregos retificados e canalizados a céu aberto ou tamponados em galerias, provocando a ocupação e a supressão de antigos meandros e regiões de várzea, sazonalmente sujeitas ao alagamento. Isso provocou a aceleração do escoamento, aumento das vazões dos rios e, consequentemente, inundações e alagamentos. À medida que a cidade cresce e o solo urbano se impermeabiliza, a situação se agrava e as estruturas de drenagem existentes passam a atender apenas uma fração do escoamento produzido por eventos de chuva.
Quais seriam as soluções a serem adotadas?
A ampliação dos sistemas de drenagem torna-se impraticável, seja pelos altos custos sociais envolvidos ou pelos elevados investimentos necessários à implantação de obras de grande porte. Os piscinões, construídos a partir da década de 1990, visam essencialmente trazer de volta um fenômeno que acontece naturalmente, com as áreas de várzea atuando como principais redutores da velocidade de escoamento e armazenando a água excedente. Estas obras cumprem o seu papel, mas com um alto preço: muitas vezes requerem estruturas de bombeamento de operação complexa e apresentam altos custos anuais de manutenção e limpeza.
Passa a ser necessária a adoção de técnicas de drenagem urbana que busquem o resgate da capacidade natural de controle de cheias presentes nas bacias sem influência humana, buscando incentivar a construção de estruturas que reduzam a impermeabilização do solo das cidades, com a utilização de pavimentos e telhados permeáveis e o aumento das áreas verdes com alta capacidade de infiltração.
A participação da sociedade e do poder público no processo de adoção de técnicas de drenagem sustentáveis torna-se importante aliada nas atividades de educação ambiental e permite a adoção de políticas públicas, utilizando-se planos diretores como instrumentos fomentadores da preservação e restauração das bacias hidrográficas urbanas, permitindo apontar a população como agente transformadora do paradigma atual.
O IPT é um instituto vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo e há mais de cem anos colabora para o processo de desenvolvimento do País.
Um dos maiores institutos de pesquisas do Brasil, o IPT conta com laboratórios capacitados e equipe de pesquisadores e técnicos altamente qualificados, atuando basicamente em quatro grandes áreas - inovação, pesquisa & desenvolvimento; serviços tecnológicos; desenvolvimento & apoio metrológico, e informação & educação em tecnologia.
Para mais informações, entre em contato com a assessoria de imprensa do IPT.
O conceito de SUDS vem substituindo as redes tradicionais de drenagem em muitos países, onde se observa que a implantação do SUDS reduz drasticamente a dimensão dos sistemas de drenagem tradicionais, reduzindo em muito o investimento financeiro envolvido nessa etapa dos projetos de desenvolvimento urbano.
Os sistemas de drenagem baseados em SUDS são desenvolvidos como pequenas unidades discretas, distribuídas pelo terreno, com o objetivo de manter as características hidrológicas locais próximas das condições existentes antes da urbanização, observando as seguintes premissas:
Não aumentar a vazão de pico que se observa nas condições naturais;Redução das taxas de escoamento, controlando a vazão de saída de cada unidade;
Planejamento integrado das unidades para controle do volume de água produzido, evitando a transferência de impactos;Auxiliar a recarga natural dos aquíferos;
Redução da concentração de poluentes na água, utilizando zonas de amortecimento;Adicionar valor estético às áreas urbanas desenvolvidas;