A partir de segunda-feira, 23, dois milhões de doses da vacina deverão ser distribuídas no Estado. A iniciativa chega um pouco tarde, considerando que casos da doença já começaram a ser registrados. O médico do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), José Cerbino Neto, explica: “A vigilância da doença e o parque industrial que produz as cepas de imunização não estão adaptados aos padrões sazonais de regiões tropicais. Vem se tentando reduzir essa diferença de abordagem. A OMS (Organização Mundial da Saúde) já separa, inclusive, os padrões de circulação”. Esse atraso, conforme o especialista, impacta até na eficácia da vacina, pois o vírus da Influenza, que tem como um subtipo o H1N1, é extremamente mutável. “O ruim disso é que temos situações em que a vacina é calibrada para aquele ano, para o vírus circulando naquele momento, e a vacina chega depois que ele já está circulando”. O médico, porém, garante que as doses que serão ofertadas aos grupos de maior vulnerabilidade — determinada pela capacidade de resposta do sistema imunológico — cobrem todos os subtipos em circulação no País e já foram adaptadas de acordo com as últimas mutações identificadas. “Todo ano temos pequenas mudanças no vírus, o que faz com que seja necessário modificar a vacina”. Ontem, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) divulgou a primeira nota técnica sobre a gripe este ano. Conforme o documento, até 14 de abril, oito dos 75 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) — um tipo de pneumonia — foram causados por Influenza (sete pelo tipo H1N1 e um pelo tipo Influenza B). Houve três óbitos. Na última segunda-feira, 16, informações da célula de Atenção Primária da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) davam conta de que a Capital havia registrado 30 casos de H1N1. A assessoria de comunicação da pasta esclareceu que, na verdade, o número se refere a casos em que exames de amostragem apontaram a presença do vírus, mas não necessariamente houve manifestação da SRAG. O infectologista Robério Leite alerta que, mesmo à espera de resultado de exame laboratorial (que demora alguns dias para ser concluído), a orientação é tratar como Influenza caso sinais de alerta sejam identificados. Conforme o médico, muitas pessoas podem ter a Influenza e nem identificá-la. “O espectro da doença é muito grande, vai desde casos leves aos de extrema gravidade. A maioria das pessoas nunca vai saber que teve. Não conseguiremos saber realmente quantas pessoas foram infectadas. Sintomas moderados e o extremo são mais raros de acontecer”.