Empreendimentos nos setores aéreos, marítimo e de dados devem transformar o perfil da economia cearense, gerando mais riquezas para o Estado e abrindo possibilidades de emprego para a população
Com os investimentos internacionais em andamento, o Ceará se prepara para concretizar, até o primeiro semestre deste ano, os três projetos de hubs no Estado. Chamado de "trinca de hubs" pelo governador Camilo Santana, as iniciativas englobam uma série de novidades nos setores aéreo, marítimo e de dados e que necessitam de melhorias na infraestrutura, como a ampliação do Aeroporto Internacional Pinto Martins, em Fortaleza, o aumento da malha rodoviária e ferroviária para o escoamento da produção, além do incremento financeiro em tecnologia para comportar as necessidades de todos os segmentos da atividade econômica.
As expectativas apontam que até maio o cenário proposto se torne realidade. É o caso do início das operações do hub da Air France-KLM e Gol, que têm data de estreia para o dia 3 de maio. O mesmo se espera para a parceria entre o Porto do Pecém e o Porto de Roterdã, cujo projeto deve ser finalizado e entregue ao governador entre abril e maio. Já o Data Center da Angola Cables, na Praia do Futuro, deve começar a funcionar também até maio deste ano.
Para o economista do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), Alexsandre Lira, os impactos dos empreendimentos devem ser sentidos em médio prazo. "O rebatimento disso, os efeitos de transbordamento, se darão em cinco anos. Muitos setores vão ser afetados, com aumento do emprego e da massa salarial", diz.
De acordo com ele, os hubs foram pensados para facilitar o desenvolvimento de negócios no Ceará. "Todos eles têm um ponto fundamental que possibilita uma melhoria na informação e nos transportes e facilita as transações comerciais porque desburocratiza os empecilhos que existem hoje".
Lira afirma que a concretização dos hubs é apenas um primeiro passo. "Os projetos tiram as barreiras que existem nos transportes e na comunicação e agilizam o processo logístico de passageiros, cargas e informações", acrescenta.
Internacionalização
Para o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), Ênio Arêa Leão, à medida que o Ceará se torna líder regional nessa internacionalização de investimentos, passa a colher frutos mais consistentes e perceptíveis.
"O Brasil ainda é um país fechado. A relação com o mundo é muito pequena e tem espaço para crescer. Esses hubs são importantes porque você mexe com a movimentação de pessoas, cargas e informações. E estes são os principais vetores entre os países", avalia.
De acordo com ele, a trinca de hubs depende agora de uma consolidação mais efetiva para dar continuidade ao processo de desenvolvimento. "Precisamos saber aproveitar essas oportunidades. Os três projetos vão acontecer, mas é preciso fazer um trabalho para tornar o Ceará mais conhecido", diz.
O economista também afirma que uma vez implantados, os três projetos necessitam ter demandas. "Não pode depender exclusivamente das empresas. É preciso, por exemplo, ter carga para exportar, ter demanda por passageiro e tudo isso passa por questões de infraestrutura e tributação", afirma.
Aviação
Faltando pouco mais de três meses para o início das operações do hub da Air France-KLM e Gol em Fortaleza, o Estado se prepara para as oportunidades advindas com os novos voos. As companhias aéreas já admitiram que devem gerar empregos diretos e indiretos na Capital e que os impactos na economia cearense serão consideráveis e sentidos nos próximos anos.
Um estudo do Ipece, que será apresentado até março, vai dimensionar de forma qualitativa e quantitativa os impactos do hub aéreo. De acordo com o governo do Estado, os setores do comércio e serviços serão os mais beneficiados com o aumento de passageiros no Aeroporto. O turismo também deverá captar novos negócios e abrir diversas opções de oportunidades para os investidores a partir do início das operações do centro de conexões aéreo.
O hub da Air France-KLM também deve fortalecer a aviação regional. O governo já tinha anunciado anteriormente que sete municípios cearenses estão prontos para receber os voos que os conectarão diretamente a Fortaleza. Os terminais de Jericoacoara, Aracati, Iguatu, Crateús, Camocim, São Benedito e Sobral já estão homologados e liberados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) para as operações. O que falta, segundo o governo, é a formalização das empresas, a assinatura dos contratos para o início dos voos.
Porto do Pecém e Porto de Roterdã
No sentido de dar andamento aos projetos existentes, o secretário do Desenvolvimento Econômico do Estado, Cesar Ribeiro, se reuniu, nos últimos dias, com executivos do Porto de Roterdã para discutir os próximos passos da parceria com o Porto do Pecém. Ele diz que entre abril e maio vai entregar o projeto final ao governador Camilo Santana.
"As expectativas têm sido muito boas. Nós tivemos três etapas desta última reunião, com a área técnica, que falta finalizar o projeto, passamos também por uma reunião executiva com a diretoria de Roterdã para alinhar as ações estratégicas e finalizamos com encontro com o governador em que foi alinhado os próximos encaminhamentos", esclarece.
Segundo ele, mais uma etapa para a concretização deve ser concluída até este primeiro semestre. "Ainda faltam laudos de empresas terceiras e avaliações técnicas. É uma negociação extremamente complexa. Quando você traz um novo parceiro, tem de serem feitas uma série de ajustes, como acordo com acionistas, por exemplo".
O secretário Cesar Ribeiro também afirma que até março haverá uma nova reunião do Estado com os executivos de Roterdã. "Ainda não marcamos a data e não sabemos se este encontro será aqui no Ceará, em São Paulo ou em Roterdã".
De acordo com o presidente do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), Danilo Serpa, o Estado está trabalhando fortemente em tornar o Porto do Pecém em um hub. "Foi de fundamental importância fechar com a Maersk Line, maior empresa de contêineres do mundo e essa linha de ligação para Ásia nos coloca nem uma situação privilegiada e estratégica para importação e exportação", diz.
"Nós recebemos durante toda esta semana uma comitiva do Porto de Roterdã. Foram reuniões muito produtivas e tudo está caminhando de acordo com o cronograma que nós estabelecemos conjuntamente", afirma.
Data Center
O Data Center da Angola Cables já tem perspectiva de estar 70% vendido ao iniciar as operações entre abril e maio deste ano. "Nesta primeira fase, nós estamos com a construção do centro de operação e da estação do Sacs (South Atlantic Cable System), que interligará Fortaleza a Luanda. No caso do cabo Monet, que já está em operação, falta apenas a conclusão da estação, que se encontra em 90% das obras", afirma o CEO da Angola Cables Brasil, Rafael Pistono.
O Data Center emprega hoje oito pessoas. Quando for iniciada a operação, o centro deverá empregar até 50 pessoas. "Indiretamente, serão 700 empregos, segundo um estudo que nós fizemos", diz. A consolidação do centro trará um incremento de R$ 1 bilhão ao Produto Interno Bruto (PIB) do Estado em 2055.