Imagine que uma catástrofe dizimou, em uma década, a população de uma cidade como Jaguaribe, com seus 34,4 mil habitantes. A epidemia de homicídios no Ceará fez, de janeiro de 2008 até dezembro do ano passado, 34.899 vítimas. Os números são superiores às populações de 130 dos 184 (70%) municípios cearenses.
Os dados consolidados de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) de 2017 foram divulgados ontem pela Secretaria da Segurança Pública (SSPDS). Nunca se matou tanto na história do Estado quanto no ano passado, que terminou com 5.134 homicídios. Uma média de 14 vidas perdidas por dia; ou uma pessoa assassinadas a cada 1h40min.
O número de CVLIs no Ceará foi, em 2017, 50,71% superior aos 3.407 computados no ano anterior e 16% acima dos 4.439 registrados em 2014 — que detinha o antigo recorde. Tal marca foi atingida ainda em novembro último. A explicação dada ontem pelo Governo do Estado não diferiu muito do dito no ano passado: o acirramento do confronto entre facções criminosas.
“O sentimento que tenho é o de que estamos agarrados ao problema, fazendo tudo que é possível fazer. Houve esse acirramento. Grande parte dessas mortes é resultante dessa disputa por territórios e mercados. Todos os dias, vocês (imprensa) mostram isso. Temos que buscar trabalhar em cima das causas disso”, disse André Costa, titular da SSPDS, citando a maior presença policial nas periferias como tentativa de solução em 2018.
Duas outras medidas foram anunciadas para tentar conter a violência. Na Capital, a primeira é a realização de parcerias com a Prefeitura e entidades privadas. A ideia é que a SSPDS garanta segurança para que instituições desenvolvam ações de saúde, educação, cultura e esporte nas periferias.
A outra é o início de uma força-tarefa junto ao Ministério Público (MPCE) para buscar soluções para a questão das facções.
“Não podemos lidar com o fenômeno das organizações criminosas sem conhecê-lo. Porque quando você escuta falar das facções, não vê o nome de uma pessoa. Ela está sem rosto. Precisamos descobrir quem são os rostos dessas facções. A gente descobre isso com a inteligência”, afirmou a promotora de Justiça Joseana França Pinto.
André Costa voltou a exigir da União mais atuação para o combate às facções. “Cem por cento dos recursos de Segurança Pública no Ceará são do Governo do Estado. Isso é um absurdo. As facções são um problema do País, e o Ceará não vai resolver o problema sozinho”, afirmou, ponderando que houve diminuição dos casos de latrocínio.
“Em termos relativos em 2016, os latrocínios representavam quase 13% dos CVLIs e hoje representam cerca de 1,5%. Essa violência que aumentou não alcançou o cidadão que está nas ruas”, afirmou.