Basta um passeio por Fortaleza para se deparar
com dezenas de modelos de automóveis. Nos dias atuais, é possível perceber, aliás, o que gera críticas, que a cidade tem sido construída para atender as necessidades dos proprietários de carros em detrimento das demandas de pedestres, ciclistas e usuários do transporte coletivo. No entanto, curioso é imaginar que o primeiro veículo a motor, produto da fábrica Rambler, desembarcou em solo cearense há 108 anos, em março de 1909, de acordo com informações do livro "Coisas que o tempo levou" (1939), de Raimundo de Menezes. Naquele ano, aliás, as pessoas assistiram com estranheza ao desembarque em solo cearense do veículo de segunda mão, proveniente dos Estados Unidos e adquirido por dois cearenses, Meton de Alencar e Júlio Pinto, sogro e genro respectivamente. O valor pago pela dupla foi de 8:000$000 (oito contos de réis).
O trajeto do automóvel entre a Alfândega, onde chegou, até o Cassino Cearense (Cinema Júlio Pinto), foi feito puxado por um jumento, já que ninguém sabia como o funcionamento do motor acontecia. Uma procissão de curiosos foi formada em torno do animal e do meio de transporte, que chamava atenção pelo barulho que fazia e pelo apito estridente da buzina.
Foram necessários dias de estudo para entender como o motor do automóvel funcionava. Na primeira saída, andou alguns metros até estancar. Sempre que era colocado na rua para rodar, o automóvel chamava a atenção de quem passava. Assim, passaram a realizar experiências durante a madrugada. Quase sempre o veículo enguiçava, e era necessário desmontá-lo no meio da rua para verificar o
Uma história curiosa citada no livro "Coisas que o tempo levou" é de quando a tampa do radiador do carro foi perdida na estrada de Messejana. Júlio Pinto logo anunciou nos jornais da época que gratificaria com generosidade quem devolvesse a peça. Uma série de pessoas se interessou em achar o produto, mas, como não sabiam do que se tratava, levavam os mais variados objetos de ferro que tinham encontrado por acaso na estrada.problema da vez.
Depois de muito rodar, os pneus do veículo ficaram gastos e foi preciso substituí-los, mas não se sabia onde encontrar a peça, já que naquela época, a cidade não estava preparada para receber carros e nem sequer tinha um mercado de peças automotivas. A única opção foi substituir os pneus por rodas de madeira com aros de ferro. Devido ao barulho que causava, a alternativa não foi tão bem aceita.
Além de ir até Messejana, o carro chegou a ir até Canindé, durante as tradicionais festas religiosas, viajando de Fortaleza até Itaúna dentro de um trem e dali em diante por uma estrada, ainda de acordo com Raimundo de Menezes. O apelido que o carro ganhou entre a população foi de "mal-assombrado", devido aos holofotes e à barulheira que causava.
Em uma de suas muitas andanças, o veículo também acabou derrubando um muro, quando o motorista tentava desviar de um pedestre. A primeira batida não trouxe grandes consequências, apenas o prejuízo material.