Com a profusão de informações disponíveis na internet, fica difícil saber onde encontrar dados confiáveis sobre a saúde íntima da mulher. Mais do que nunca, é fundamental buscar conhecimento baseado na ciência.
“As mulheres precisam tomar cuidado com as fontes de informação. Só desse jeito a gente vai conseguir ter uma qualidade de saúde melhor”, diz a ginecologista Marise Samama, fundadora e presidente da Associação Mulher, Ciência e Reprodução Humana do Brasil (AMCR).
A seguir, suas dicas baseadas na ciência para proteger a saúde íntima da mulher.
1) Ir ao ginecologista uma vez por ano
Para Marise Samama, a partir da primeira menstruação, a mulher precisa visitar o ginecologista anualmente.
No consultório, a mulher adulta será submetida a uma citologia cérvico-vaginal, também conhecida como preventivo ou Papanicolau. Esse exame detecta lesões que antecedem o câncer do colo do útero.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), se o indivíduo tiver dois resultados negativos em dois anos consecutivos, deverá repetir o exame dali a três anos. “Mas isso considerando que a pessoa tenha uma vida estável. Sem um parceiro fixo, ela pode se contaminar pelo vírus HPV, o grande vilão do câncer ginecológico”, diz a médica.
Com a parcela mais jovem da população vacinada contra o HPV, a preocupação maior são as infecções de transmissão sexual (ISTs), associadas à infertilidade. De acordo com a ginecologista, anualmente mais de 4% das mulheres têm infecção por clamídia, por exemplo.
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) recomendam que jovens com menos de 25 anos façam pesquisa de clamídia e gonorreia anualmente. Já o protocolo do Ministério da Saúde recomenda também o rastreamento anual de HIV e sífilis para brasileiros com menos de 30 anos.
2) Usar camisinha nas relações sexuais
O dado é alarmante: os brasileiros não estão usando camisinha. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), de 2019, 59% das pessoas com 18 anos de idade ou mais que tiveram relação sexual nos 12 meses anteriores à data da entrevista afirmam não usar preservativo nenhuma vez. O estudo revelou que somente 22,8% relataram usar camisinha em todas as relações sexuais e 17,1%, às vezes.
“Eu acho que só a geração que viveu a infecção do HIV tem essa preocupação. Os jovens acreditam que a aids tem tratamento”, afirma a médica. “As pessoas que não usam preservativo procuram o posto de saúde para tomar o pep (Profilaxia Pós-Exposição de Risco) e recebem uma prescrição de antibióticos. O uso indiscriminado de antibióticos está levando à resistência de bactérias e dificultando o tratamento (das doenças).”
Há anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem alertando que a resistência aos medicamentos é uma grande ameaça para a redução da carga de ISTs em todo o mundo.
Segundo a entidade, 374 milhões de pessoas são infectadas anualmente com as quatro ISTs mais comuns: tricomoníase (156 milhões), clamídia (129 milhões), gonorréia (82 milhões) e sífilis (7,1 milhões).
Um em cada seis casais no mundo tem infertilidade. E a infertilidade pode ser causada pelo contato com uma dessas bactérias já na primeira relação sexual. — Marise Samama, ginecologista
3) Atualizar a carteira de vacinação
A pandemia da covid-19 escancarou a importância da vacinação para a saúde. Mesmo assim, muitas pessoas que tomaram doses protetoras contra diversas doenças na infância se esquecem de atualizar as recomendações para os adultos.
O imunizante que protege contra o HPV, por exemplo, está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas e mulheres de 9 a 26 anos de idade, embora ela seja mais eficaz entre 9 e 14 anos, segundo o Ministério da Saúde.
O órgão do governo brasileiro recomenda que as brasileiras adultas se protejam contra hepatite B, febre amarela, difteria e tétano, sarampo, caxumba e rubéola.
4) Não ignorar sintomas e sinais
Não é normal sentir cólica menstrual ou dor na relação sexual. Se isso acontecer, a recomendação é procurar um ginecologista.
Marise Samama explica que, em caso de dor na relação sexual, a primeira suspeita são ISTs como clamídia e gonorreia. Já a cólica menstrual é um sinal de alerta para endometriose, doença que afeta 1 em cada 10 mulheres.
Queixa frequente nos consultórios dos ginecologistas, o corrimento também não pode ser ignorado. Caso ele venha acompanhado de mau cheiro, alteração na cor, ardência e coceira, há sinais de infecção.
5) Usar o coletor menstrual com cautela
De acordo com a médica, o objeto só deve ser utilizado se a visita ginecológica estiver em dia. “O sangue é meio de cultura e favorece a proliferação de bactérias. Se a pessoa estiver com alguma infecção, o uso do coletor menstrual pode piorar o quadro infeccioso”, diz. A médica recomenda retirar o objeto a cada seis horas e não dormir com ele.
6) Evitar perfumes íntimos
As mulheres têm odores naturais. Infecções vaginais alteram o cheiro da região e são um dos sinais importantes de que algo está errado. Por isso, o uso do perfume íntimo dificulta o diagnóstico para a própria mulher. Além disso, segundo a ginecologista, fragrâncias podem ser alergênicas.
7) Tomar alguns cuidados com a calcinha
As orientações de Marise Samama são:
Para quem tem predisposição à candidíase, é fundamental usar modelos de algodão
Dormir sem calcinha, porque a região genital precisa ventilar
Na lavagem da peça, usar sabão comum ou o próprio para roupa íntima
Não utilizar amaciante, pois o produto é potencialmente alergênico
Se a pessoa tiver o hábito de lavar a calcinha no chuveiro, é importante colocá-la para secar em um ambiente ventilado. Banheiro e outros locais úmidos favorecem o crescimento de fungos.
8) Manter a higiene em ordem
Para higienizar a vulva, a ginecologista recomenda o uso de sabonete líquido para adultos ou aqueles próprios para a região genital. “O pH do local é 4,5. Muita gente usa sabão de nenê, mas o bebê tem outro pH”, diz ela. Outro cuidado é lavar somente a área externa na vulva.
Em relação aos absorventes, a médica contraindica o uso diário: “O absorvente tem um material sintético que favorece o corrimento. Ele deve ser usado somente se a mulher estiver com uma infecção ou no período do finalzinho e do começo da menstruação”.
Assim como o coletor menstrual, o absorvente interno não deve ser utilizado por mais de 6 horas seguidas.
9) Conhecer os riscos da depilação total
Marise Samama torce o nariz para a moda da depilação total da virilha. Ela explica que o pelo tem a função de equilibrar a temperatura, o pH e a flora vaginal. Sua remoção desequilibra a microbiota e favorece o crescimento de bactérias que não são benéficas para a região. Além disso, o filamento produz um sebo que hidrata a vulva. Sem ele, a pele fica ressecada.
De acordo com a médica, alguns estudos mostraram que a remoção total dos pelos pode aumentar a predisposição ao câncer de vulva e de reto. No entanto, como a moda é recente, mais pesquisas serão necessárias para avaliar o impacto da depilação total a longo prazo.
“Todo mundo vai ter esses efeitos negativos? Claro que não. Mas a gente tem visto algumas mulheres reclamando da formação de cistos na vulva por conta disso. Outras se queixam de mais corrimento e transpiração”, aponta a médica.
Para quem quiser se depilar, ela recomenda remover somente a área do biquíni: “O pelo tem que cobrir a entrada da vagina. Mantendo o meio está tudo certo”.
10) Tomar algumas precauções na praia e na piscina
Ficar muito tempo com o biquíni molhado favorece a proliferação do fungo Candida auris, causador da candidíase.
De olho na prevenção do HPV, é importante não compartilhar toalha e sabonete, além de cobrir a cadeira de praia com uma canga antes de sentar. “O HPV é transmitido por contato. Mesmo uma pessoa virgem pode contrair o vírus”, explica a médica.
Fonte: revistamarieclaire
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